terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Canetas

Tenho três canetas sobre minha mesa. E nenhuma idéia. Estranhamente, tenho três canetas sobre minha mesa. Normalmente, não há nenhuma. Tampouco há idéias. A diferença, agora, é que há três canetas sobre minha mesa. Por que estarão todas elas aqui hoje? Não consigo atinar a nada sobre como utilizá-las. Sei que estão. Sobre minha mesa. Não se mexem, não se oferecem. Estão. Devo tomar uma atitude. Entre usá-las ou tirá-las de minha vista, fico em dúvida. Não sei o que será de mim sem canetas sobre minha mesa. Tampouco sei o que será com três. Mas as tenho. Sobre minha mesa. Caso resolva o que fazer, terei de manuseá-las uma por vez. Pego uma e tenho duas canetas sobre minha mesa e uma entre meus dedos. Se trocá-las a situação continuará a mesma. Preciso entender o que mudaria com uma caneta entre meus dedos e duas sobre minha mesa. Se as tivesse, as três, nas minhas mãos, poderia fazer três riscos simultâneos sobre o papel. Também precisaria descobrir a utilidade disso. O melhor é ter uma caneta para manusear e duas sobre a mesa. Caso se acabasse a tinta da primeira, utilizaria uma das duas restantes. Para que a carga da primeira caneta se acabe, há duas hipóteses. Ou estaria ela já com muito pouca tinta ou seria necessário escrever muito. Neste caso, nenhuma das possibilidades existe. As três canetas sobre minha mesa são novas, e eu ainda não escrevi nada. A primeira caneta, portanto, permaneceria muito tempo entre meus dedos. Teria duas canetas sobre minha mesa. E não se pode saber o que fazer com elas.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Ouçam

Quem aí já ouviu o cd da Mart'nália ao vivo? Pois ouçam. Entre muita coisa legal, tem a belezura cuja letra transcrevo abaixo...


Benditas (Mart'nália e Zélia Duncan)

Benditas as coisas que não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Nos amores que nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam
benditas

A vida é curta mas enquanto durar
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre
o amor não mente,
não mente jamais
E desconhece
no relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além
dos nossos sonhos mais puros

Bom é não saber
o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui
na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa / nenhuma

Benditas as coisas que não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Nos amores que nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam
benditas

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Chega!!!

Affe que assim num dou mais conta! A Viagem que num chega, o dinheiro que é curto. O sonho vira ansiedade. A uma semana do paraíso, nada mais faz sentido. Trabalhar pra quê, se semana que vem saio de férias? Sair pra que? Se ainda estou em Brasília? Pra que comprar um biquini se inda estou sem praia? Não há mais alegrias por aqui que não sejam as preparações e sonhamentos. Queria eu ser inteirinha férias. Quero ver a língua do mar, os cabelos dos coqueiros, e gente morena, preta, índia. Quero um sotaque baiano ritimando meu caminhar. Me dá água de coco? Peixe? Cerveja? Areia que é bom. O sol me toca na alma, me deixa quentinha e feliz. Não quero mais calça, me dá o biquini? Me tira daquiiiiiii!!!!!! Tenho muitas urgências: Préférias.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Viajar é bom mas planejar também o é


A vida fica leve e, de repente, tudo faz sentido. O dinheiro e a falta dele. O trabalho e, ah!, a ausência dele. Férias. O que seria da vida não fosse as férias??? Se trabalho é tripalium (instrumento agrícola de cultura de cereais, também utilizado como instrumento de tortura) a viagem de férias é um opium, uma religião. Cremos nela, (vida após a morte?), acreditamos que ela um dia virá arrefecer e significar toda uma passagem anterior de renúncias. Em férias, tudo é permitido, acordar tarde, viver sem relógio, comer o que quiser, fazer amor dia e noite. Férias é subversão. Daí que viajar é bom mas planejar também o é, pois o que resta ao trabalhador senão a promessa do paraíso?, o que nos resta senão a labuta cotidiana de nosso corpo engajado na promessa de um descanso feliz. Se o orgasmo é uma 'petite mort', então férias, 'grande mort'. Que eu descanse em paz.
ps. a imagem, a única que me veio a mente, é a contracapa do disco foreigner, de cat stevens.

Viajar é bom mas planejar também é melhor


Viajar é bom mas planejar também é melhor. Porque preparação pra viajar não é só pensar aonde ir, mas pensar o que levar. Nem coisa de mais, nem coisa de menos. Nem chique demais, nem simples de menos. Roupas práticas, confortáveis e lindas. Coisas que temos, coisas que sonhamos. Coisas que podemos comprar pra levar, coisas impossíveis pra bolsinhos comuns. Viajar é bom mas planejar também é melhor. Por que o biquini que planejamos, nem sempre não cabe no bolso como, as vezes, não cabe no corpo. Por que roupa de viagem, vestuário viajado, não é aquele que se usa, mas aquele que acontece, nos sonhos... Ah, com essa roupa, seria assim, seria assada. E tudo aconteceria.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Viajar é bom, mas planejar também é melhor

Viajar é bom, mas planejar também é melhor, por que a gente viaja, paradinha, pesquisando, pensando, sonhando... Já faz uma semana que TODOS os dias eu sonho que estou viajando, nessa já fui a Ouro Preto, Rio de Janeiro e Bahia, ah! Bahia... Viajar é bom, mas planejar também é melhor.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Pronto, Ana!

Nessas férias descobri que não faço mais parte da última geração que caminha sobre a Terra.

Cheguei a essa conclusão na megafesta conhecida por Planeta Atlântida. Na primeira noite de shows apresentaram-se no mesmo palco a banda de Florianópolis Dazaranha, o gaúcho melo-chapado Armandinho, o bivolt Lulu Santos, O Rappa, Babado Novo (isso mesmo, pasmem!), uma cansadinha Cidade Negra e um grupo de pagode que não fiquei para ver porque pagode de adolescente bacana às 3 e meia da madruga já é demais.

A questão é que, enquanto as meninas ao meu lado choravam e cantavam todas as músicas do dito Armandinho, eu sabia umas duas ou três... O que me salvou foi a quantidade de la-la-lás e uou-uou-uous nas letras do cara. Depois dele, foi a vez do Lulu Santos, que, para as criaturas da minha idade, só tem hits. Eu seria capaz de cantar todas as músicas daquele show, até de trás para frente. Já as mocinhas que choravam na apresentação anterior só conheciam aquela que tocava na Malhação e 'Como uma onda'. Apenas O Rappa nos ligava...

Dei risada ao pensar que, daqui a alguns anos, os Titãs, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso e outros remanescentes da década de 80 talvez não toquem mais em festivais como esse, dominados por lindas meninas de 15 anos que preferem o ursinho de dormir do Armandinho aos bichos escrotos.

Pergunta

Ninguém mais bosta neste plog?

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

De viva voz a Gerardo Diego

Mas que vou dizer da Poesia? Que vou dizer dessas nuvens, desse céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da Poesia. Isso deixa-se aos críticos e professores. Mas nem tu nem eu nem nenhum poeta sabemos o que é a Poesia.
Aqui está: olha. Eu tenho o fogo em minhas mãos. Eu o entendo e trabalho com ele perfeitamente, mas não posso falar dele sem literatura. Eu compreendo todas as poéticas; poderia falar delas se não mudasse de opinião a cada cinco minutos. Não sei. Pode ser que algum dia eu goste muitíssimo da má poesia, como gosto (gostamos) hoje da má música com loucura. Queimarei o Partenão à noite, para começar a levantá-lo de manhã e não terminá-lo nunca.
Em minhas conferências, tenho falado às vezes da Poesia, mas da única coisa que não posso falar é da minha poesia. E não porque seja inconsciente do que faço. Ao contrário, se é verdade que sou poeta pela graça de Deus - ou do demônio -, também o é que o sou graças à técnica e ao esforço e de dar-me conta em absoluto do que é um poema.
Federico García Lorca

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Na repartição

E se eu não for trabalhar hoje? E se for, mas não fizer nada? E se fizer, mas mal-feito? Adianta? Quando chego bem cedo e percebo que o dia não vai ser bom, a semana não vai ser boa, a vida não vai ser boa, vou para um canto escuro de uma sala escura deste imenso prédio escuro e choro. Depois, seco os olhos, mas ficam resquícios. O que houve com seus olhos, dona? Estão vermelhos. Conjuntivite, doutor. Ei, isso pega! Pega, mas já está no fim. Amanhã, terei os olhos limpos e claros como água de rio. Talvez, a alma também, mas esta é mais difícil, porque não usa colírio.
E se eu resolvesse não viver hoje? Ficar acocorada em algum lugar, com a cabeça entre as pernas, bem quieta. Ei, dona, o que há? Nada, não responderia nada. Será que me deixariam? Ou chamariam um psiquiatra? Se eu ficasse calada, total silêncio, sem movimentos, sem levantar a cabeça; se eu me recusasse a responder. Eles se esqueceriam de mim, quem sabe? Então, eu saberia se a paz se encontra assim, de cócoras. Sou uma mulher grande. Não será fácil. Tenho medo de que resolvam levar-me. Para casa, para o hospital, para o hospício. Teriam de chamar dois homens, no mínimo. Sou pesada. Seria vexatório? Cômico? Deprimente? Acho que não tenho coragem de fazer isso. Deve ser o que nos diferencia dos loucos: a coragem.
Às vezes, passo horas tentando decifrar coisas sem a mínima importância prática. Certa função sintática de uma palavra em uma oração grande de um período ainda maior. Não sei para quê. Mas é divertido, ocupa a cabeça, pelo menos durante um certo tempo. Depois... bem, depois é outra história. Pode-se começar tudo de novo. Outra coisa interessante é ficar fuçando e descobrir a origem de um termo, suas transformações até a palavra atual. É bom. Ri-se bastante e se adia o acocoramento.
Não se deve ler muito, porém. Leitura faz mal à vista. Quando era pequena, gostava de ler à hora do almoço. Isso acaba com seus olhos, menina! Largue já esse livro, venha comer. Ah, mãe! Ei, menina, não leia com pouca luz, deixe esse livro aí. Ah, mãe! Sempre soube que leitura enfraquece os olhos, mas o que acabou me obrigando a usar óculos foi o computador. Talvez eu tenha lido pouco, mesmo. Escrever faz menos mal. Pelo menos, ninguém nunca me repreendeu por estar escrevendo. Talvez porque eu não escreva na frente dos outros. Tenho vergonha. Quero dizer, quando trabalhava no jornal, tinha de escrever na sala de redação, junto a todos os jornalistas. Mas nenhum se preocupa com o que o outro escreve e, além do mais, eram matérias para um periódico. Lê-se num dia e no outro já nem se lembra mais. Quando se escreve algo ruim, não há com o que se preocupar. Ninguém vai lembrar. Só quem escreveu.
De toda forma, trabalhar, ler, ouvir música e outras coisas são ótimas para evitar que se pense em ficar de cócoras para o resto da vida. Um bom exercício para não pensar. Principalmente o trabalho. Além de dignificante, é alienante, o que é muito bom, pois impede maus pensamentos. Há um ditado popular: "cabeça vazia, oficina do diabo". Por isso, sempre é bom ter muitas tarefas. Mas e se eu não as fizesse hoje?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

10 dicas para o bom escritor


01) - Quando você não tiver o que fazer, não escreva. Só sairão bobagens. Escritor não é aquele que quer escrever, mas o que disso precisa.

02) - Não use a primeira pessoa com freqüência, a não ser que você seja o Machado de Assis.

03) - Não cometa poemas. Já existe quem defenda a queima de maus poetas em praça pública, numa fogueira feita com seus escritos (há um projeto tramitando no Congresso Nacional).

04) - O coração não faz poesia. Coração, quando está bem, bate; quando está mal, mata. Nunca, porém, ouviu-se falar de um coração que escrevesse.

05) - Trate bem as palavras. Ou as trate mal. Mas trate-as. Não conseguirá escrever sem elas.

06) - Domine muito bem a língua que pretende usar. O idioma também.

07) - Leia bastante. Se isso não ajudá-lo a escrever, ajudará a fazar análise literária.

08) - Escreva todos os dias, o máximo que puder. Quantidade não é qualidade, mas pelo menos você terá o que jogar fora.

09) - Não mostre seus escritos aos amigos. Eles não serão imparciais. Também não os mostre aos desafetos. Você vai dar esse gostinho a eles?

10) - Não ouça conselhos de quem não sabe escrever. Nem de quem sabe. Quem escreve não sabe dar conselhos; quem os dá não sabe escrever.

Boa sorte!